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26/12/2023 • ASG / ESG
"ASG & Seguros – Reflexões”: um livro que apresenta múltiplos (e essenciais) pontos de vista
Entrevistamos Pedro Werneck, um dos autores da obra recém-lançada pela Escola de Negócios e Seguros, e que aborda assuntos como desafios ambientais, responsabilidade social e governança corporativa transparente
No final de 2023, a Escola de Negócios e Seguros (ENS) lançou o livro “ASG & Seguros – Reflexões” contendo um artigo escrito pelo analista sênior da CNseg, Pedro Werneck, intitulado "Consideração de questões ASG para o setor de seguros", que aborda a relevância da consideração de aspectos ambientais, sociais e de governança (ASG) para as operações de seguros, destacando como as empresas do setor podem se posicionar em relação ao tema.
Do conceito de ASG à transição climática justa, uma conversa com Pedro Werneck
Para nos aprofundarmos um pouco mais nesse tema, conversamos com Pedro, que é coordenador da Comissão de Integração ASG da CNseg, é graduado em Relações Internacionais pelo IBMEC, possui certificação da ENS em ESG para o setor de seguros e está obtendo a certificação em Finanças Climáticas pelo CFA Institute. Confira abaixo:
- Pedro, em seu artigo, você fala que ASG é a tradução do conceito de sustentabilidade para as ciências humanas que orienta as atividades produtivas, avaliando o desempenho das organizações. Como, objetivamente, as questões ASG podem ser utilizadas para avaliar o desempenho das organizações e das seguradoras, em particular?
A tríade ASG, composta por critérios Ambientais, Sociais e de Governança, é utilizada para avaliar o desempenho sustentável de organizações a longo prazo. Estes critérios vão além de métricas econômicas convencionais, fornecendo uma base mais ampla e holística para decisões financeiras e de investimento. Eles enfatizam a importância de práticas sustentáveis e responsáveis, abordando questões como impacto ambiental, responsabilidade social e governança corporativa.
Atualmente existem diversos índices e frameworks no mercado responsáveis por comprovar, medir a eficácia e padronizar o reporte da atuação de empresas em relação a questões ASG. Esses critérios estão ligados a emissões de carbono diretas ou indiretas, a práticas de diversidade, ao impacto das suas atividades nas comunidades locais, à eficiência energética, à gestão de resíduos, entre outros.
Para o setor de seguros, o desempenho relacionado ao tema está majoritariamente ligado à consideração de questões ASG no core de suas atividades: processos de subscrição e gestão de riscos e de ativos. Embora não existam critérios ASG específicos para avaliar o desempenho de seguradoras, já existem iniciativas consolidadas que visam uniformizar informações financeiras de sustentabilidade para empresas de capital aberto. Com o lançamento das normas IFRS S1 e S2, por exemplo, organizações, inclusive seguradoras, poderão traduzir financeiramente seus riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade, proporcionando informações mais qualificadas para os investidores.
- Dois conceitos sobre os quais há certa confusão são os de “mudanças climáticas” e “transição climática”. Pode explicar a diferença dos dois?
As "mudanças climáticas" se referem às transformações de longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Já "transição climática' se refere ao processo de mudança de um modelo econômico intensivo em carbono para uma economia de baixo carbono. A transição climática envolve a adoção de tecnologias sustentáveis, políticas de mitigação de emissões de carbono e de adaptação às mudanças climáticas.
- Em seu artigo, você afirma que o G20 reconhece que o risco climático representa uma ameaça à estabilidade financeira internacional devido aos impactos físicos, mas também aos impactos da transição para uma economia de baixo carbono nos mercados financeiros. Quais os maiores desafios financeiros da transição para uma economia de baixo carbono?
A transição para uma economia de baixo carbono envolve riscos financeiros que podem ser categorizados em 4 esferas principais: político-legais, de mercado, tecnológicos e reputacionais.
Os riscos político-legais surgem de mudanças na legislação e em políticas públicas relacionadas à adaptação para uma economia de baixo carbono ou à inibição de atividades com emissões elevadas. A taxação de carbono e as restrições de emissões para algumas indústrias são exemplos mais comuns. Empresas que não estão em conformidade com novas regulamentações/leis podem enfrentar multas e, eventualmente, processos judiciais.
Dessa forma, o risco de litígio ou risco legal é um componente importante a ser considerado nessa esfera, uma vez que a judicialização relacionada a falhas na gestão dos riscos climáticos ou à insuficiência na transparência a respeito de riscos materiais relacionados ao clima têm sido cada vez mais constante, especialmente em países com arcabouço regulatório/legal mais robusto em relação ao clima.
O risco de mercado no contexto da transição para uma economia de baixo carbono pode ser compreendido como o risco de mudanças dos padrões de demanda e de oferta para certos produtos e serviços. Um aumento na demanda por instalações comerciais que possuem sistemas de energia fotovoltaica, ou de eficiência energética, por exemplo, pode desvalorizar instalações que não as possuem.
Já os riscos tecnológicos de transição estão diretamente associados ao surgimento de novas tecnologias que impulsionam a transição para uma economia de baixo carbono, como eficiência energética, energia renovável e processos de captura de carbono que podem afetar a competitividade das empresas. Empresas que investem em tecnologias ultrapassadas e danosas ao meio ambiente podem enfrentar riscos de obsolescência e de perda de investimentos.
Por fim, os riscos reputacionais estão ligados a percepção pública em relação às práticas empresariais. Empresas que apoiam ou se associam a empreendimentos, parceiros, clientes ou fornecedores de má reputação podem sofrer consequências negativas que incidem principalmente em sua imagem reputacional.
- Quais os meios possíveis para as seguradoras contribuírem para a transição para uma economia de baixo carbono?
Fornecendo cobertura securitária para agentes de setores econômicos estratégicos para essa transição, como infraestrutura verde, energia limpa, bioeconomia e agricultura sustentável; e influenciando stakeholders das suas cadeias de valor por meio da adoção de condutas socioambientais responsáveis em suas atividades de subscrição de riscos, de gestão de seus investimentos e de seleção de fornecedores/prestadores de serviço.
Vale destacar que direcionar esforços para atividades e indústrias que efetivamente contribuem para o desenvolvimento sustentável não significa necessariamente abandonar nichos de mercado que são intensivos em carbono. Seguradoras podem demandar de seus clientes/proponentes planos de transição, de contingenciamento e dispositivos de mitigação de danos ambientais (exigências que vão além das normas legais) para renovação de contratos de seguros ou aceitação de riscos, por exemplo.
O setor de seguros pode incentivar, apoiar e engajar segurados e potenciais consumidores de seguros na transição de suas operações para modelos sustentáveis via redução do risco de investimentos em novas tecnologias, via adaptação ou criação de novos produtos e serviços ou via revisão na precificação dos seguros para que levem em conta processos mais sofisticados e sustentáveis. É importante ressaltar que impor limites e restrições para a realização de negócios que considerem aspectos climáticos é uma prerrogativa individual de cada empresa de seguro e amparada pelo regulador (por meio da Circular Susep 666).
- O que é a “transição climática justa”? Como o setor de seguros se relaciona com essa pauta?
A transição climática justa consiste na transição econômica para um modelo de baixo carbono "sem deixar ninguém para trás." Os desafios ligados ao processo de transição climática afetam de maneira desigual países, comunidades, pessoas e setores da economia. Isto porque a transição climática envolve mudanças significativas em setores econômicos, como a substituição de indústrias baseadas em combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis, e tem implicações profundas para o emprego, a redistribuição de recursos e o desenvolvimento social.
De maneira geral, o papel dos seguros na transição climática justa está em reduzir as assimetrias sociais e potencializar (ao máximo) as oportunidades que o modelo econômico de baixo carbono proporciona. Aumentar a participação do seguro na sociedade, especialmente para populações vulneráveis, promove maior resiliência financeira dessa parcela da população, auxiliando na diminuição das desigualdades e contribuindo para construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Além disso, o seguro é fundamental para amparar obras e reformas estruturais em segmentos estratégicos para transição climática, como transportes, energia e agricultura.
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